domingo, 25 de janeiro de 2009

Uma Mudança...

A Câmara Municipal de Cinfães, juntamente com a paróquia de Tendais, decidiram que esta aldeia necessitava de uma mudança, de um melhoramento naquele que é sem dúvida o seu ponto forte, o local do Cabeço. Além da paisagem por todos elogiada, é aqui que se encontra a capela de Nª Sª dos Milagres.

Então, ainda no ano de 2008 iniciaram-se as obras de requalificação dos espaços envolventes à capela de Marcelim.
Talvez depois disto ainda possamos assistir a mais mudanças e mais "modernizações" neste local mas por enquanto deixo-vos apenas as fotos da evolução desta obra até ao mês de Dezembro de 2008.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Marcelim coberta de neve

Num mês tradicionalmente ilustrado pela neve, Marcelim acordou mesmo num dia de muito frio, completamente coberta de neve... Momentos lindos, que ficaram registados:




As paisagens eram assim....:


A aldeia...

Nos declives da encosta de Montemuro, virados a Norte, encontra-se a aldeia de Marcelim, aldeia pertencente à freguesia de Tendais, concelho de Cinfães e distrito de Viseu.



Por entre construções modernas teimam em persistir casas de antigamente, de pedra sobreposta, com telhados de duas águas por onde se escapava o fumo denso da lareira que era a fonte de aquecimento no interior das habitações.


No rés do chão existiam as cortes onde os animais pernoitavam e contribuíam para o aquecimento do andar cimeiro.
O interior das casas era mal iluminado e parco em haveres, retrato de uma comunidade pobre que vivia da agricultura e da pastorícia.


À entrada da aldeia umas alminhas lembram piedade aos mortos e boa conduta aos vivos. Executadas em pedra amarela, são constituídas por mesa de altar e um painel de azulejo, que representa as almas suplicantes entre as chamas do Purgatório na ânsia da salvação.


Do largo adjacente (designado Portela) saem dois caminhos: um, em direcção a norte, que conduz à capela de Nª Sª dos Milagres e um outro, sentido noroeste, que por entre o casario desemboca no adro frente à capela de Sº Lourenço e daqui segue para a fonte Grande (também chamada fonte Fresca), para os campos de cultivo, para o monte, para o ribeiro e para a vizinha Vila Viçosa.

Capela de Nª Sª dos Milgares e coreto (Cabeço)


Capela de Sº Lourenço
Interior da capela de Nª Sª dos Milagres
Interior da capela de Sº Lourenço

Fonte Fresca

Caminho da fonte Fresca para os campos



As entradas das casas em banda, só entrecortadas por estreitos atalhos, deitam directamente para o caminho, sendo frequente às portas o convívio entre vizinhos e passantes.
A fonte Pública que também alimenta um bebedouro para animais, é o ponto de encontro entre os que aí vão buscar água ou por ali passam. Aí se combinam rogas, trabalhos agrícolas, aí se fala dos afazeres, da carência da vida, do mundo e do dia-a-dia numa socialização constante.


A população, como em muitos lugares do Concelho de Cinfães, está envelhecida.
A desertificação humana é uma realidade.


Há várias casas devolutas com os proprietários a viver em Lisboa e Porto.
As gentes que outrora viviam da agricultura e da pastorícia procuram na construção civil e nas grandes cidades o seu sustento, abandonando formas de ocupação de outras épocas.

Até há três dezenas de anos atrás vivia-se na terra, da terra e para a terra.
A socialização ocorria no convívio diário dos trabalhos, das orações comuns ao toque das trindades, das festividades e dos funerais.
As crianças, fizesse chuva ou sol, estivesse frio ou calor, iam monte a baixo, com a sua sacola ao ombro com algo para comer, percorrendo um árduo caminho, para poderem receber a instrução primária na Escola Primária de Vila de Muros.



A festividade neste lugar realiza-se todos os anos, no 1º domingo de Agosto e representa a fé deste povo, o apego à religião, mas também a sua vivacidade, o seu espírito de gratidão e a sua alegria em receber visitantes e familiares dispersos por essas terras além.

A preparação da aldeia para a festa começa poucos dias antes, com a limpeza de todos os caminhos onde passará a procissão e também no adro fronteiro à capela, no Cabeço.
A capela é limpa e decorada, os andores são enfeitados com lindas cores de flores, a música ambiente, vinda dos altifalantes é presença contínua nestes dias de trabalho, mas sempre cheios de alegria e muito amor a esta terra e a esta festa.

No dia anterior à festa, (no sábado), é realizado um baile, onde uns dançam, e outros convivem nos bares andantes ali presentes. Ao fim do baile, segue-se o convívio mais bonito e mais único desta aldeia, muitos são os que pernoitam no adro envolvente à capela, dormitando, enrolando-se em cobertores quando chega o frio da madrugada, ou fazendo petiscos, assim é até ao nascer do sol.

Após uma longa noite, todos os presentes ajudam na decoração do caminho onde irá passar a procissão, formando enormes tapetes verdes, com feitos recolhidos nos dias anteriores por grupos de jovens da aldeia.


No domingo da festa e já depois da missa e do sermão, realizados no coreto ou num palco fronteiros à capela, dá-se inicio à procissão que circunda toda a povoação, passando pela capela de Sº Lourenço (junto à fonte Grande), onde abranda, como que em reconhecimento àquele padroeiro.

Chegada a procissão ao adro, depois de circundada a capela, os andores são virados de frente para a encosta envolvente ao rio Douro, e é feita uma reflexão, com as palavras do padre celebrante.

Terminada a procissão, os andores são recolhidos na capela, e a multidão dispersa-se, pois que o cabrito assado e o arroz de forno não se podem fazer esperar.
A parte da tarde domingueira é passada no adro da capela, assistindo às actuações da banda ou de ranchos. Enquanto uns dançam, outros petiscam e convivem ao redor das tascas ambulantes.







Notas:
O texto aqui presente foi parcialmente retirado do livro de Jorge Ventura "Marcelim, tradições e costumes de uma aldeia no vale do Bestança"












As fotografias mostradas da festa da aldeia são do ano de 2008
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